D. Carlos de Bragança (1863-1908)
A Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves tem nos seus acervos uma aguarela da autoria do rei D. Carlos, realizada na baía de Cascais há 100 anos. Esta obra foi adquirida em 1933 pelo médico oftalmologia Dr. Anastácio Gonçalves.
No final do Verão, início de Outono, a corte estava em Cascais onde os reis e os príncipes gozavam a praia e o mar. Aí eram festejados, normalmente, os aniversários de D. Carlos (1863-1908) e de D. Amélia de Orléans (1865-1951), ambos nascidos a 28 de Setembro, assim como o de D. Luís (1838-1889) a 31 de Outubro. O final do mês de Outubro marcava geralmente o regresso a Lisboa.
Quer o monarca D. Luís, quer o seu filho D. Carlos, eram adeptos dos encantos da pequena vila de Cascais, recortada por pequenas praias e frequentada por aristocratas e burgueses em busca de divertimento estival durante a estadia da corte.
D. Carlos foi artista e teve como professores de pintura o espanhol Enrique Casanova, professor de toda a família real, e Miguel Ângelo Lupi. O monarca, nascido em 1863, no mesmo ano que outro pintor, Carlos Reis, tornar-se-ia numa presença assídua em exposições de onde participavam membros do Grupo do Leão e os artistas da segunda geração naturalista. Para o rei, servia-lhe de exemplo o grande mestre do naturalismo português, Silva Porto, na procura de uma autenticidade de estilo e de técnica.
Foi fecunda a produção pictórica de rei, tendo sobretudo granjeado fama os seus pasteis e delicadas aguarelas. Na aguarela Praia de Cascais (1906), surge-nos uma graciosa figura de senhora caminhando à beira-mar, de frente para a água e levantando o vestido, enquanto contempla um mar defronte de si pontuado com barcos e gaivotas. A candura do tema, o tratamento harmonioso e sensual do vestido que emoldura o corpo elegante da figura, que aparenta ser a alta e elegante rainha D. Amélia, o requinte realístico dado ao vestido e às sombras, assim como as aguadas com que fez a areia e o mar, fazem desta pintura uma das melhores da sua obra de aguarelista, onde só encontramos água, um pouco de pigmentos, uma luz harmoniosa e muito talento.
A baía de Cascais era um local frequentado pela rainha e num dos seus passeios está a origem da fundação do Instituto de Socorros e Náufragos, em 1892. A ideia surgiu-lhe depois de uma curiosa peripécia. Num dia de tempestade, a Rainha D. Amélia, que gostava muito de passear na praia de Cascais, atirou-se completamente vestida ao mar para salvar um pescador que se afogava, trazendo-o para a beira-mar. De volta ao palácio, declarou: “Je remercie le ciel qui m’a inspire cette sortie”. Este acto valeu-lhe inúmeras condecorações de potências estrangeiras.
Todavia, apesar de o naturalismo português ter em D. Carlos de Bragança um importante pintor, nunca lhe foi reconhecido o seu devido valor pela sua condição de rei. Na realidade, talvez Silva Porto tenha tido no mais alto membro da nobreza portuguesa o mais legítimo dos discípulos. Fialho de Almeida, em 1898, apercebendo-se da qualidade plástica e sensível do rei afirmava que o rei não governava mas “pintava e muito bem», valendo «só ele quase todo (o salão d’) Grémio Artístico».”, e José de Figueiredo referia-se ao monarca como «sucessor indirecto de Silva Porto» (1905).
José Alberto Ribeiro
Praia de Cascais
1906
Aguarela sobre papel
CMAG 974
1906
Aguarela sobre papel
CMAG 974
A Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves tem nos seus acervos uma aguarela da autoria do rei D. Carlos, realizada na baía de Cascais há 100 anos. Esta obra foi adquirida em 1933 pelo médico oftalmologia Dr. Anastácio Gonçalves.
No final do Verão, início de Outono, a corte estava em Cascais onde os reis e os príncipes gozavam a praia e o mar. Aí eram festejados, normalmente, os aniversários de D. Carlos (1863-1908) e de D. Amélia de Orléans (1865-1951), ambos nascidos a 28 de Setembro, assim como o de D. Luís (1838-1889) a 31 de Outubro. O final do mês de Outubro marcava geralmente o regresso a Lisboa.
Quer o monarca D. Luís, quer o seu filho D. Carlos, eram adeptos dos encantos da pequena vila de Cascais, recortada por pequenas praias e frequentada por aristocratas e burgueses em busca de divertimento estival durante a estadia da corte.
D. Carlos foi artista e teve como professores de pintura o espanhol Enrique Casanova, professor de toda a família real, e Miguel Ângelo Lupi. O monarca, nascido em 1863, no mesmo ano que outro pintor, Carlos Reis, tornar-se-ia numa presença assídua em exposições de onde participavam membros do Grupo do Leão e os artistas da segunda geração naturalista. Para o rei, servia-lhe de exemplo o grande mestre do naturalismo português, Silva Porto, na procura de uma autenticidade de estilo e de técnica.
Foi fecunda a produção pictórica de rei, tendo sobretudo granjeado fama os seus pasteis e delicadas aguarelas. Na aguarela Praia de Cascais (1906), surge-nos uma graciosa figura de senhora caminhando à beira-mar, de frente para a água e levantando o vestido, enquanto contempla um mar defronte de si pontuado com barcos e gaivotas. A candura do tema, o tratamento harmonioso e sensual do vestido que emoldura o corpo elegante da figura, que aparenta ser a alta e elegante rainha D. Amélia, o requinte realístico dado ao vestido e às sombras, assim como as aguadas com que fez a areia e o mar, fazem desta pintura uma das melhores da sua obra de aguarelista, onde só encontramos água, um pouco de pigmentos, uma luz harmoniosa e muito talento.
A baía de Cascais era um local frequentado pela rainha e num dos seus passeios está a origem da fundação do Instituto de Socorros e Náufragos, em 1892. A ideia surgiu-lhe depois de uma curiosa peripécia. Num dia de tempestade, a Rainha D. Amélia, que gostava muito de passear na praia de Cascais, atirou-se completamente vestida ao mar para salvar um pescador que se afogava, trazendo-o para a beira-mar. De volta ao palácio, declarou: “Je remercie le ciel qui m’a inspire cette sortie”. Este acto valeu-lhe inúmeras condecorações de potências estrangeiras.
Todavia, apesar de o naturalismo português ter em D. Carlos de Bragança um importante pintor, nunca lhe foi reconhecido o seu devido valor pela sua condição de rei. Na realidade, talvez Silva Porto tenha tido no mais alto membro da nobreza portuguesa o mais legítimo dos discípulos. Fialho de Almeida, em 1898, apercebendo-se da qualidade plástica e sensível do rei afirmava que o rei não governava mas “pintava e muito bem», valendo «só ele quase todo (o salão d’) Grémio Artístico».”, e José de Figueiredo referia-se ao monarca como «sucessor indirecto de Silva Porto» (1905).
José Alberto Ribeiro
Sem comentários:
Enviar um comentário