por Neuza Polido
A importância da porcelana chinesa é, actualmente, reconhecida em todo o mundo. As suas características específicas, associadas à textura do corpo cerâmico, ao vidrado e à decoração pintada, elevaram a cerâmica a uma qualidade artística e material nunca antes alcançada.
No caso da decoração pintada, esta apresentou à porcelana um problema fundamental de design – como adaptar o ornamento à forma e material da peça sem comprometer o efeito visual geral. É assim que no período Ming (1368-1644) a decoração se organiza de modo claro e legível, procurando valorizar a forma. Pratos, taças e potes apresentam uma decoração em círculos concêntricos – a decoração central é acompanhada por painéis de plantas, animais, emblemas ou símbolos no bordo de pratos e taças. No caso da Kraakporselein (Porcelana de Carraca; destinada à exportação) o anterior esquema de decoração é substituído, sendo agora as abas das peças divididas em painéis delimitados por linhas que irradiam do centro. Neste caso, o aspecto geral da peça é marcado pelo excesso decorativo. Por outro lado, na Dinastia Qing (1644-1911) a decoração já vale por si própria, não se limitando a revestir ou a acentuar a forma.
O repertório decorativo é variado e tem marcas das também variadas crenças chinesas. Se é conhecido que no país coexistem três religiões (Budismo, Confucionismo, Taoísmo), é ainda de notar que ao conjunto de personagens por elas fornecidas se podem acrescentar outras divindades indígenas ou heróis históricos divinizados. Muitas destas ideias sobreviveram nas crenças populares e nos meios mais letrados através da literatura ou do teatro.
Por isso, pode-se dizer que a gramática decorativa da porcelana está “impregnada de simbolismo”[1]. Animais mágicos e comuns, plantas, paisagens, personagens e símbolos animam, assim, estas peças de corpo branco e translúcido. Também nos podem surgir cenas de interior, relacionadas com a mulher, a música ou até cenas de caça e de corridas de cavalos, tal como emblemas ocidentais como brasões ou símbolos cristãos. Assim, partindo dos múltiplos símbolos e imagens que animam as porcelanas da CMAG, convidamos todos os visitantes a descobri-los no espaço do museu, não esquecendo que esta linguagem “mágica” é transversal a todas as idades.
[1] Pinto de Matos, M. A., A Casa das Porcelanas. Lisboa: Instituto Português dos Museus e Philip Wilson, 1996, p.24.
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