terça-feira, 9 de setembro de 2008

A Fuga de Wang-fô - Feed-back do público


Com o objectivo de estabelecer uma ligação significativa entre o público e as colecções de Arte doadas ao estado pelo Dr. Anastácio Gonçalves, a Casa-Museu desafiou Joana Pupo a apresentar a peça de teatro “A Fuga de Wang-” (a partir do Conto Oriental de Marguerite Yourcenar) no seu espaço.
A actividade decorreu durante o mês de Abril. No final, o público era desafiado a enviar um feed-back ao seguinte desafio:

Numa situação de limite como a de Wang-:
não tendo tela nem pincéis, mas podendo fugir para uma das
peças da Casa-Museu, qual delas escolheria? Porquê?

Aqui apresentamos alguns dos retornos recebidos por carta:

Eu encolhia, encolhia e escondia-me dentro de uma gavetinha da cómoda-papeleira com alçado (no lado esquerdo, em cima) que estava no salão.
E lá ficava espreitando de quando em vez e saindo para passear no escuro silencioso da noite.”


Para o balcão no cimo da escada que leva a lado nenhum, ponto mágico da Casa onde se observa a sociedade nos salões e a vida para lá da ampla janela.”

A janela grande do ateliê de Malhoa porque é uma fuga para um espaço aberto de vida.

30/04/2008

Exmos. Senhores,

As minhas felicitações pelo vosso trabalho.
Na situação que me é apresentada por Wang- eu fugiria e descansava na linda cama que se encontra na sala principal, mesma que está exposta no catálogo da Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, voltava-me para os lindíssimos vitrais e adormecia docemente
.”

Olhem para mim!!
Vou gritar VEJAM-ME.
Estou aqui. Que posso fazer..."

Ouço passos de vem em quando.
Os últimos sábados têm trazido vidas e mundos em forma de gente. Sabes?
Até sacudo o pó naquela esperança de menina, vaidosa e impaciente por um olhar atraído que me diga:

“sim; és linda.”

Vêm aí. É agora?...Talvez, sim, apareceu uma mão decidida a avançar seguida de vestes cinzentas com uma caixa com cauda.
Outra vez….será o mesmo.
Muitas costas levantam pescoços que perseguem aquele alguém. Os cabelos empurram-lhes o olhar. Também queria ver o que se leva na caixa, que deve ser precioso, só pode, para haver peregrinações destas aqui na casa.
Passo aqui os dias…”As horas giram…” Era a pessoa das vestes a falar. Pois as minhas olham para mim especadas frente-a-frente nesta pequena sala abeirada por um corredor.
Que inveja da sala, escadas, patamares (sei lá bem!) onde vai desembocar este corredor. Gostava de espreitar, para saber como é a foz em que desagua. Nem imaginas o esforço que fiz para gravar essa imagem e saber como é esse sítio quando me trouxeram para aqui uns braços musculados que, com paciência e desespero, lá foram obedecendo à vozinha aguda de Quem Provavelmente Manda Aqui
“não deixem os cantos tocar em nada
Não me esmurem a cómoda!!
Mais à direita à frente. Não Não! Aí, abaixo, atrás, mas com Jei-t-i-n-ho…”

Na confusão não vi nada. Tenho sempre a vontade de perguntar aos curiosos que enfiam a cabeça aqui na sala. E digo-lhes, sabes?”Volta cá no final!” Mas os curiosos são também esquecidos e seguem. E eu fico aqui, a tentar acompanhá-los com a imaginação. Guardo as imagens que invento e os momentos que lá vivo nas minhas gavetas.

Houve um dia em que aconteceu uma coisa estranha.
Do grupo saiu uma jovem que se parecia comigo: bonita, tímida, imaginada e imaginativa. Ia com alguém atraente com quem lidava com desprendimento. De súbito entrou na minha sala, sorriu-me, que foi uma maneira terna de chorar, e escondeu numa gaveta um papel que antes tinha enfiado no bolso das calças dele. Isso eu consegui ver, foi na passagem.
Como de costume vi primeiro uma mão e braço. Desta vez não cobertas de vestes cinzentas. Em meio segundo lhe deu o papel, e antes mesmo de ele o aceitar, ao levantar o braço para olhar para o bolso, ela sumiu-lhe o papel de vista. Girou sobre si como quem dança e mudou a cor do sorriso ao fugir para a minha sala, para o segredo dela e para a minha gaveta, onde o guardou.
Fiquei a ser uma cómoda-contador cheia de vida e de sonho por pulsar em mim uma história que vai acontecendo algures lá fora, entre o mundo dele e dela.

“Gosto de ti"

Eu também gostei de ti por te teres refugiado em mim.


O último feed-back chgou sob a forma de … um CD de Mozart.

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