Hugo Miguel
Crespo
Centro de
História da Universidade de Lisboa
Animado
por múltiplos e sucessivos historicismos e revivalismos, o século XIX
caracteriza-se pela reprodução, variação, pastiche
ou mesmo cópia enganadora de obras-primas do passado que serviam não apenas uma
função pedagógica, já que segundo a tradição académica é pela cópia que se
assimilam os modelos e as estéticas do passado e também as preciosas técnicas
oficinais que num período pós-revolução industrial se temia virem a perder-se, mas
respondiam de igual modo à ânsia coleccionística da sociedade burguesa de então.
É neste contexto de renovação das artes aplicadas e sua didáctica que surgem os
grandes museus de artes decorativas, tais como o Museum of Manufactures, hoje
Victoria and Albert Museum em Londres em 1852, ou o k.k. Österreichischen Museums für Kunst und Industrie (Museu Imperial
Austríaco de Arte e Indústria), hoje Österreichisches Museum für angewandte Kunst (Museu de Artes Aplicadas)
em Viena em 1863. Também os novos avanços tecnológicos, nomeadamente quanto à
reprodutibilidade rápida e pouco dispendiosa de peças complexas e únicas, como
a invenção da galvanoplastia (1838), foram fundamentais para a criação de
modelos que, servindo de objecto de cópia por novas gerações de artistas e
artesãos, vieram rechear de forma expedita estas novas colecções museológicas.
Não estranha portanto que uma obra-prima da ourivesaria europeia, o Relicário
do Santo Espinho outrora no Tesouro Eclesiástico em Viena (Geistliche Schatzkammer, hoje Tesouro Imperial ou Kaiserliche Schatzkammer), sabemos hoje
encomendado por Jean, Duc de Berry cerca de 1400-1410, tenha sido alvo de
reproduções mais ou menos fantasistas - como o objecto da presente conferência,
adquirido pelo Dr. Anastácio Gonçalves em 1959 - e também de uma cópia
fraudulenta que veio a substituir o original, hoje conservado no British
Museum, Londres. Através da análise material e técnica da peça adquirida por
Anastácio Gonçalves, comparando-a com o original no museu londrino, e também da
apreciação estética e espiritual do Relicário do Santo Espinho no seu contexto
de produção medieval, traçaremos o seu percurso custodial atribulado e
surpreendente.
Nota biográfica
Licenciado
em Publicidade & Marketing pela Escola Superior de Comunicação Social do
Instituto Politécnico de Lisboa e Mestre em Comunicação, Cultura e Tecnologias
de Informação pelo Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa do Instituto
Universitário de Lisboa, é, desde 2009, bolseiro da Fundação para a
Ciência e Tecnologia no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa onde desempenha
funções no departamento de comunicação.
Os seus
interesses pelo colecionismo e os mercados da arte levaram a que participasse
na Pós-graduação em Mercado da Arte e Colecionismo da Faculdade de Ciências
Sociais e Humanas de Lisboa.
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