A Casa Malhoa atual
Casa-Museu Anastácio Gonçalves não fugiu à corrente iniciada na segunda metade
do século XIX em Portugal, na senda do que acontecia já em vários países do
ocidente, que destacava o uso do vitral como um dos elementos mais originais a
incluir nas novas arquiteturas. Os avanços técnicos construtivos, nomeadamente
o uso de betão que permitiu rasgar grandes vãos e o aperfeiçoamento das técnicas de fabrico do
vidro, abriu caminho à introdução deste elemento decorativo nos novos
edifícios.
O arquiteto Norte
Júnior, autor do projeto, regressara da sua estadia em Paris pouco antes de
iniciar mais este trabalho e terá sido o responsável pela encomenda dos três
vitrais existentes na Casa-Museu à Societé Artistique du Peinture sur Verre, sediada no
início do séc. XX na Rue Notre Dame des Champs, nº96, em Paris, um dos ateliers
mais prestigiados da capital francesa dirigido pelo mestre vitralista
Louis-Charles-Marie Champigneulle, o que torna estes vitrais particularmente
singulares no panorama português.
De destacar de entre os vitrais existentes no edifício o
da sala de jantar, sendo o que de todos apresenta um maior investimento
decorativo e de acabamentos, não só pela sua maior dimensão, mas também pelo local
da casa a que se destinava, espaço de convívio e de tertúlia por excelência. Numa assumida
linguagem Arte-Nova, “nele surge uma sonhadora figura de mulher ‘caracteristicamente 1900’,
de cabelo apanhado e longas vestes, colhendo frutos de uma árvore que cresce
num jardim de lírios e hortênsias onde evoluem pombos brancos, recortada sobre
um fundo de arvoredo e ciprestes”, para citar Rui Afonso Santos na sua obra “O
Vitral-História, Conservação e Restauro”.
De sublinhar ainda que o principal responsável
nos inícios do séc. XX pela recuperação e reativação da arte do vitral na zona
da capital foi o mestre vitralista e
pintor Cláudio Martins (1879-1919) que, por coincidência, manteve uma estreita
colaboração com o arquiteto Norte Júnior.
Nos passados meses de Junho e Setembro de
2017, foi realizado um estudo dos vitrais Art
Nouveau pertencentes à Casa-Museu Anastácio Gonçalves, que envolveu
especialistas da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de
Lisboa e do MOLAB (MOBile LABoratory, IPERION-CH), confirmando-se através da
assinatura a sua proveniência da Societé
Artistique de Peinture sur Verre, de Paris em 1904.A
coordenação da investigação esteve a cargo de Teresa Palomar, Márcia
Vilarigues, Isabel Pombo Cardoso e Miguel Silva (FCT-UNL). Os estudos
analíticos realizados no âmbito da colaboração com o MOLAB incluíram análises
de termografia, a cargo de David Giovannacci (MOLAB França: CRC – equipa LRMH),
que pretenderam entender as variações térmicas nos vitrais durante o solstício
de verão. Vivi Tornari e Michael Andrianakis (MOLAB Grécia: FORTH) aplicaram a
técnica “Digital Holographic Speckle Pattern Interferometry” com o objetivo de
avaliar a estabilidade dos esmaltes e grisalhas. Aldo Romani e
Chiara Grazia (MOLAB
Italia: UNIPG S.M.A.Art) aplicaram a técnica “Vis Hyperspectral Imaging”
para caracterizar os esmaltes e pinturas aplicados no vitral do Atelier e os
cromóforos dos vidros do vitral da Sala de Jantar. E, finalmente, Piotr
Targowski e Magdalena Iwanicka (MOLAB Polonia: NCU) realizaram análises
de “Optical Coherence Tomography”
para determinar a espessura dos esmaltes e grisalhas aplicadas nos vitrais,
assim como a sua aderência no vidro suporte.
O estudo realizado
foi financiado mediante o Acesso a
Infraestruturas de Investigação do Programa H2020 da UE (IPERION CH n.
654028).
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