quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

VITRAL DA SALA DE JANTAR

A Casa Malhoa atual Casa-Museu Anastácio Gonçalves não fugiu à corrente iniciada na segunda metade do século XIX em Portugal, na senda do que acontecia já em vários países do ocidente, que destacava o uso do vitral como um dos elementos mais originais a incluir nas novas arquiteturas. Os avanços técnicos construtivos, nomeadamente o uso de betão que permitiu rasgar grandes vãos e o aperfeiçoamento das técnicas de fabrico do vidro, abriu caminho à introdução deste elemento decorativo nos novos edifícios.
O arquiteto Norte Júnior, autor do projeto, regressara da sua estadia em Paris pouco antes de iniciar mais este trabalho e terá sido o responsável pela encomenda dos três vitrais existentes na Casa-Museu à Societé Artistique du Peinture sur Verre, sediada no início do séc. XX na Rue Notre Dame des Champs, nº96, em Paris, um dos ateliers mais prestigiados da capital francesa dirigido pelo mestre vitralista Louis-Charles-Marie Champigneulle, o que torna estes vitrais particularmente singulares no panorama português.
De destacar de entre os vitrais existentes no edifício o da sala de jantar, sendo o que de todos apresenta um maior investimento decorativo e de acabamentos, não só pela sua maior dimensão, mas também pelo local da casa a que se destinava, espaço de convívio e de tertúlia por excelência. Numa assumida linguagem Arte-Nova, nele surge uma sonhadora figura de mulher ‘caracteristicamente 1900’, de cabelo apanhado e longas vestes, colhendo frutos de uma árvore que cresce num jardim de lírios e hortênsias onde evoluem pombos brancos, recortada sobre um fundo de arvoredo e ciprestes”, para citar Rui Afonso Santos na sua obra “O Vitral-História, Conservação e Restauro”.
De sublinhar ainda que o principal responsável nos inícios do séc. XX pela recuperação e reativação da arte do vitral na zona da capital foi o mestre vitralista e pintor Cláudio Martins (1879-1919) que, por coincidência, manteve uma estreita colaboração com o arquiteto Norte Júnior.
Nos passados meses de Junho e Setembro de 2017, foi realizado um estudo dos vitrais Art Nouveau pertencentes à Casa-Museu Anastácio Gonçalves, que envolveu especialistas da Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa e do MOLAB (MOBile LABoratory, IPERION-CH), confirmando-se através da assinatura a sua proveniência da Societé Artistique de Peinture sur Verre, de Paris em 1904.A coordenação da investigação esteve a cargo de Teresa Palomar, Márcia Vilarigues, Isabel Pombo Cardoso e Miguel Silva (FCT-UNL). Os estudos analíticos realizados no âmbito da colaboração com o MOLAB incluíram análises de termografia, a cargo de David Giovannacci (MOLAB França: CRC – equipa LRMH), que pretenderam entender as variações térmicas nos vitrais durante o solstício de verão. Vivi Tornari e Michael Andrianakis (MOLAB Grécia: FORTH) aplicaram a técnica “Digital Holographic Speckle Pattern Interferometry” com o objetivo de avaliar a estabilidade dos esmaltes e grisalhas. Aldo Romani e Chiara Grazia (MOLAB Italia: UNIPG S.M.A.Art) aplicaram a técnica “Vis Hyperspectral Imaging” para caracterizar os esmaltes e pinturas aplicados no vitral do Atelier e os cromóforos dos vidros do vitral da Sala de Jantar. E, finalmente, Piotr Targowski e Magdalena Iwanicka (MOLAB Polonia: NCU) realizaram análises de “Optical Coherence Tomography” para determinar a espessura dos esmaltes e grisalhas aplicadas nos vitrais, assim como a sua aderência no vidro suporte.
O estudo realizado foi financiado mediante o Acesso a Infraestruturas de Investigação do Programa H2020 da UE (IPERION CH n. 654028).


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