Uma evocação de Baudelaire
nos 150 anos da morte (1867-2017)
Charles
Baudelaire morreu em Paris em 1867, há 150 anos. Em Março de 1866,
na cidade belga de Namur, ele tinha sofrido um ataque cerebral (o que se chama
hoje em dia um AVC), uma apoplexia antecedida por severa cefaleia. O problema
de saúde que se manifestou bruscamente deixou-o com sérias dificuldades em
expressar-se, ficando afásico e paralisado do lado direito do corpo, poucos
dias antes de completar os 45 anos de idade. Nesse dia, ele encontrava-se numa
das naves da igreja de Saint-Loup, uma igreja de jesuítas em Namur, acompanhado por dois amigos, o pintor belga
Félicien Rops e o editor Poulet-Malassis, exilado na Bélgica, um homem
arruinado depois de publicar “As Flores do Mal”. Nesta fase da vida, Baudelaire
era um homem devastado por dívidas e muito doente. Transportado para Paris onde
permaneceu acamado durante mais de um ano, Baudelaire foi sepultado a 1 de
Setembro de 1867. A sua mãe, a senhora Aupick, decidiu que Charles ficaria
sepultado na campa do padrasto, o general Aupick, um homem detestado pelo
poeta. Até aos dias de hoje, Baudelaire não tem uma pedra de sepultura própria no cemitério de Montparnasse.
Baudelaire e Courbet
O poeta e o pintor foram amigos
durante algum tempo, antes de Baudelaire se afastar de Courbet e de se
aproximar muito de Manet. Para Baudelaire e
Zola, ‘Manet era o futuro com um talento muito forte que a tudo iria
resistir’. Mas Courbet tinha contribuído para a reabilitação de um gosto pela
simplicidade e pela absoluta honestidade e foi provavelmente isto que
atraiu de imediato Baudelaire para a sua
pintura. Em cafés e cervejarias de Paris, muitas discussões tiveram os dois
sobre os destinos do povo francês, sobre
Proudhon, Delacroix, a arte, os júris e os salões. Nas discussões sobre arte,
Baudelaire gesticulava muito ao argumentar
que o Realismo das telas do Courbet tinha mais a ver com a verdade do que
com a realidade e que as pinturas de
Courbet procuravam mostrar uma verdade mas que estavam longe de serem exactas. Courbet
foi um iconoclasta, sempre pronto a desafiar as convenções sociais. Foi
descrito como um belo homem robusto, um provinciano filho de camponeses
abastados. Era carismático e de personalidade muito vincada e os seus quadros
protagonizaram vários escândalos. Foi
criticado pelas suas simpatias republicanas e socialistas, por se relacionar
com Proudhon, por ser um pintor “realista” e por não fazer concessões às regras académicas que vigoravam
nos salões artísticos.
Nota biográfica
Mestre
em Filosofia pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova
de Lisboa. Licenciada em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade
Clássica de Lisboa. De 1983 até 2005, foi colaboradora no vespertino ‘A
Capital’, na área da cultura e da música. Desde 2006 é colaboradora do
semanário ‘Expresso’ na área da música. É autora de três exposições de
fotografia sobre o Carnaval no Café Florian de Veneza na Fnac-Chiado, no Grémio
Literário e na Galeria Gan. Na Antena 2, criou o programa radiofónico ‘Plácidos Domingos’ e foi co-autora do programa ‘Preto no Branco’. Na Rádio Renascença
criou o programa ‘A Flauta Mágica’.
Escreveu dois livros: ‘Rock Stars - Cinco
anos de Rock em Portugal’ (editado na Gradiva e no Círculo de Leitores) e a
peça de teatro sobre Courbet e Baudelaire com o título ‘A Origem do Mundo’.
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